quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ser Pai

O papel do pai está a mudar, mas ainda há muito caminho pela frente.

O pai de que falamos hoje, não é necessariamente o pai biológico. A figura paterna pode ser exercida por outras figuras masculinas, incluindo um padrasto, um pai adoptivo, um avô ou um irmão adolescente. O pai pode ou não viver com a criança na mesma casa (caso dos casais separados) e pode estar fisicamente mais longe ou mais perto, sem que isso afecte necessariamente a sua função. Para efeitos práticos o que designamos por pai é a figura masculina afectivamente mais próxima da criança, comprometida em lhe proporcionar a melhor qualidade de vida possível, independentemente da relação biológica.

O PAPEL TRADICIONAL DO PAI E DA MÃE

Todos sabemos como era. Ao pai estava reservado o papel de sustento financeiro da família. À mãe, o cuidar das crianças. O pai era a figura que representava a autoridade e a última palavra era, invariavelmente, dele. A mãe era responsável pelo lado emocional dos laços familiares. Durante séculos foi assim, sempre com algumas excepções, nesta ou naquela família, mas é um facto que o papel de cada progenitor na sua família sempre foi determinado, em grande parte pelo seu sexo.

Uma das principais forças que tem impulsionado a mudança no papel desempenhado pelo pai tem sido o factor económico. Nas últimas décadas, a mulher assumiu um papel progressivamente mais importante no mercado de trabalho, acabando de vez com a teoria de que o lugar da mulher é em casa, a tratar dos filhos, da roupa e da loiça. Se bem que esta opção permaneça ainda hoje em aberto, sendo mesmo seguida por alguns casais, por opção, com excelentes resultados, constitui hoje uma excepção. O mais frequente é o pai e a mãe estarem ambos activos nos seus empregos e serem ambos responsáveis pelo orçamento familiar. Por estas razões, a mãe ficou com menos tempo para as crianças e alguns pais quiseram e souberam aproveitar esse espaço.

Por outro lado, a evolução do mercado de trabalho, com a multiplicação dos trabalhos por turnos, a difusão do «part-time» e a expansão do trabalho a partir de casa, contribuíram igualmente para permitir a alguns pais passarem mais tempo com as suas crianças. As leis de regulação da maternidade (agora chamadas também da paternidade) passaram a incluir algumas alíneas permitindo aos pais a redução do seu horário de trabalho para que possam dedicar mais tempo à sua família.

Nos casais separados, a evolução que se observou para a custódia conjunta e o aperfeiçoamento das regras de regulação de poder paternal, têm vindo gradualmente a retirar às mães alguns dos seus (nem sempre justificados) privilégios, atribuindo ao pai um papel mais interventivo e presente na educação das crianças, libertando-o da mera e redutora função de contribuinte financeiro.

Por fim, e também muito importante, a mentalidade da sociedade tem vindo a alterar-se, e hoje os pais são muito mais encorajados a dedicar-se aos seus filhos, sem que isso seja visto como um qualquer sinal de fraqueza ou perda de masculinidade. Jornais, revistas (como a PAIS & Filhos) e alguns sítios na internet têm vindo a alertar para o papel muito importante que o pai pode desempenhar na educação, crescimento e desenvolvimento dos seus filhos, criando na comunidade a sensação de que o bom pai já não é apenas aquele que sustenta financeiramente a sua família, mas que envolve muitos outros aspectos para além disso.

EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Num artigo científico recente, um investigador do comportamento infantil deu-se à tarefa de analisar que tipo de trabalhos estavam publicados na literatura científica sobre o papel da mãe e do pai no desenvolvimento das crianças. Concluiu que metade dos trabalhos apenas abordava o papel desempenhado pela mãe, um quarto dos restantes referia o pai, mas sem lhe dar qualquer relevo especial, e só no quarto restante era abordada de forma individual a relação entre um pai e os seus filhos. Ou seja, o papel desempenhado pelo pai, e o tipo de relação que ele pode construir com as crianças que tem a seu cargo, tem sido negligenciada, mesmo em termos científicos.

Mas o que nos mostram os (ainda poucos) estudos científicos sobre este assunto, é que o pai e a mãe influenciam de igual forma as suas crianças no que diz respeito à criação de uma consciência moral, competência nas interacções sociais, desempenho académico e manutenção da saúde mental. A principal diferença não está nos resultados mas na forma pois o pai privilegia o contacto físico e a brincadeira, incluindo as actividades desportivas, enquanto a mãe é habitualmente mais emocional. Outros trabalhos chegaram à conclusão que as crianças que têm, durante a infância e a adolescência, uma presença paterna em quem confiam, tornam-se adultos com um desempenho na sociedade melhor e uma saúde mental mais forte. Também se verificou que adolescentes que, durante esta fase das suas vidas, sentiram o pai como presente e conselheiro, têm menos tendência a exibir mais tarde comportamentos delinquentes.